Apesar de mudanças políticas, 1% mais rico concentra 24% da renda no Brasil, em média, desde 1926, aponta estudo

Por IPC-IG

 
metrô

Foto: Dylan Passmore. Subway passengers in São Paulo, 2006, Brazil <http://bit.ly/1jNlqZo>

 

Por Júlia Matravolgyi, Estagiária de Comunicação*

 

Brasilia, 25 de abril 2018 - Apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) per capita ter aumentado 12 vezes entre 1926 e 2015, a concentração de renda no topo da pirâmide social no Brasil se manteve extremamente alta. A desigualdade social, em geral, varia de acordo com grandes mudanças políticas e institucionais, segundo estudo lançado pelo Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG, na sigla em inglês). Em “Uma história de desigualdade: as maiores rendas no Brasil, 1926-2015”, Pedro H. G. Ferreira de Souza – pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – utiliza dados do imposto de renda para estimar distribuição de renda no Brasil entre 1926 e 2015.


Acompanhe, abaixo, cinco destaques sobre a desigualdade de renda desde a década de 1920:

  1. Em média, a renda do 1% mais rico da população foi equivalente a 24% da renda total no período analisado. A título de comparação, isto representa o dobro do observado atualmente em outros países.
  2. A desigualdade aumentou e diminuiu, por vezes abruptamente, de acordo com mudanças institucionais e políticas. A renda dos mais abastados aumentou durante a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) e diminuiu quando as condições excepcionais da Segunda Guerra Mundial passaram. Outro pico ocorreu após o Golpe Militar de 1964, quando a ditadura reprimiu a esquerda e instituiu uma série de reformas favoráveis à acumulação de capital.
  3. Embora a natureza do regime político importe, a democracia não é suficiente para a redistribuição de renda – políticas públicas são necessárias para gerar mudanças. Segundo a análise, “dar com uma mão e tomar com a outra” é comum nos Estados modernos: iniciativas de transferência de renda como o Programa Bolsa Família são pequenas se comparadas aos incentivos fiscais e créditos subsidiados conferidos às grandes empresas.
  4. A distribuição de renda se manteve relativamente estável desde 2000, mas os coeficientes de Gini ajustados sugerem uma menor, embora ainda relevante, diminuição da desigualdade. Os coeficientes Gini ajustados pelo pesquisador mostram que a desigualdade diminuiu desde os anos 1980, mas essa redução parece ter sido menos significativa que sugerido pelos Ginis não ajustados. Além disso, a desigualdade diminuiu consideravelmente desde a metade dos anos 2000.
  5. A estabilização macroeconômica de 1994 ajudou a nivelar classes sociais, mas a concentração de renda no topo pouco se alterou desde então, devido ao status quo político predominante. De forma similar, a fatia recebida pelos mais ricos diminuíram no fim dos anos 1970 enquanto o governo militar buscava legitimidade, mas cresceram novamente nos anos 1980, quando a situação política que levou à redemocratização resultou em uma inflação galopante devido à novas demandas, à manutenção de privilégios e às grandes dívidas contraídas no período de industrialização via substituição de importações.


Leia o estudo completo, publicado pelo IPC-IG em inglês, ou a versão resumida, One Pager, em português.

 

 

(*) Sob a orientação de Denise Marinho dos Santos, Oficial Sênior de Comunicação